“Ana Karenina” – Nota de Conclusão

sean

Minhas suspeitas confirmaram-se. O livro que li anos atrás e guardei na memória não é o mesmo que reli agora. Truque da memória? Editei algumas coisinhas no meu inconsciente, outras acabaram esquecidas, provavelmente por não ter dado a devida importância na época (Ah! Adolescência!). Creio que a maturidade de fato desempenhou um papel importante nesta nova experiência de leitura.

Vi desta vez muitos personagens por um novo prisma. Outros, como Liêvin, destacaram-se mais desta vez do que da primeira. Nesta segunda leitura eu o amei, e muito. Por sua sinceridade, autenticidade, e principalmente por seu coração de apaixonado, portanto acabei dando um desconto para o seu lado mais rabugento. São dele algumas das minhas passagens favoritas no livro.

“Este segredo só tem importância para mim, e palavra alguma o poderia explicar. Este novo sentimento não me modificou, não me deslumbrou, nem me tornou feliz, como eu supunha. Sucedeu a mesma coisa com o amor paternal, que não foi acompanhado de surpresa ou de deslumbramento. Devo chamar-lhe fé? Não sei. Sei apenas que me penetrou na alma através do sofrimento e nela se implantou com toda a firmeza”.( Liêvin – Ana Karenina – Tolstoi)

Ana Karenina também já não é mais a mesma de quem eu lembrava. Antes a achava desafiadora e corajosa por viver seu amor. A editei para mim como uma espécie de mártir (fictícia) do feminismo. De onde eu tirei essa? Tolstói adiantou-se muitos anos ao tratar do fim do casamento com o divórcio, mas Ana não foi uma vítima das circunstâncias. Muito pelo contrário, já carregava em si o gérmen da tragédia que abateu-se sobre sua vida, como um pressentimento de alma revelado em sonho que infelizmente a engoliu.

Este não é um livro sobre a emancipação feminina ou da falta de espaço para a mulher na sociedade retratada ali, embora seja um de seus temas. Esta é uma história sobre as famílias tristes e sobre o veneno presente sob o viés das aparências que lhe dão sustentação. Neste particular a mensagem de Tolstoi foi direta: o veneno, seja qual forma tome (de preconceito, intolerância, falta de comunicação, ausência, adultério ou mentiras) deve ser extirpado. Não existe família feliz se não existir harmonia entre seus membros, contudo, cada família, por ter sua identidade própria também tem a sua forma particular de encontrá-la.

2 comentários sobre ““Ana Karenina” – Nota de Conclusão

  1. Esse é um dos meus livros favoritos. Li ano retrasado e fiquei encantada com a forma como a historia foi construída e a profundidade dos personagens. Com toda certeza o Liêvin é meu personagem favorito. Adorava quando ele ficava refletindo sobre os valores da sociedade, se questionando sobre os mais variados assuntos e toda a simplicidade dele…enfim, acho ele incrível.
    Esse livro é muito denso, mas é sensacional.

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    • Nossa! Fiquei impressionada com o quanto nossas interpretações do livro convergiram. É a segunda vez que isso acontece, às vezes quando escrevo, fico pensando se alguém vai realmente captar o espírito da coisa.Saber o que eu estava sentindo. penso o mesmo sobre Liêvin. Obrigada pelo seu comentário e espero que tenha gostado do blog. 🙂

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