“Ana Karenina” – Guia de Leitura

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Foram páginas e páginas. Um livro denso sem dúvida, e também um clássico. Enquanto pensava em como fazer este guia de leitura, pensei em ser muito sucinta. Vocês sabem que eu sou adepta do: “Leia e veja no que dá. Apenas leia e a obra fará o seu trabalho”. Entretanto, como se trata de um livro relevante, resolvi ser um tantinho mais minuciosa. Divido esse Guia em tópicos e diferentes perfis. Espero que cumpra o seu intuito e auxilie os que pretendem ler este trabalho sem igual de Tolstói.

  • Se seu vocabulário não é tão amplo, não tenha medo ou vergonha de usar um dicionário. O mais importante é ler!
  • Aconselho a comprar este livro. Ele é essencial para qualquer biblioteca, bem como seu prestígio é eterno. Vale o investimento.
  • O texto de Tolstói é bem simples. Ele não viaja muito. Não faz frases gigantescas e não costuma enrolar. A trama, essa sim, costuma ser mais complexa. Ela não é difícil, só que possui muitas ligações entre os personagens durante o texto. Ele faz várias histórias em uma só. É muito rico.
  • Preste atenção às traduções. Algumas que têm como alvo o público adolescente ou jovem, são mais fluidas e modernas. Outras são para os amantes da literatura, são mais preciosas, artísticas e universais. Existe também grande variedade de preços. Pese os prós e os contras antes de adquirir seu exemplar. Caso só haja uma edição disponível, não pestaneje e vá nela mesmo!
  • Se você costuma ler com certa frequência, leia sem medo. Agora, se você é um iniciante, não lê nunca e não tem intimidade com literatura, desfrute-o com cuidado, atenção e carinho, pois algumas passagens importantes podem passar despercebidas para quem não está acostumado. Se você for um estudante e além de conhecer a obra quer um verniz, ou uma adição intelectual para si, aconselho a ler um ou dois contos de Tolstói antes do livro, existem vários pela internet, e assim você vai se aclimatizar com o texto dele. Se a sua curiosidade e segurança estão em dia, mesmo que você não seja um leitor contumaz, e tudo o que você quer é conhecê-lo. Eu te digo para ler sem medo, e desfrutá-lo com vontade.
  • Você encontrará várias grafias tanto do título do livro, como do nome do autor. É tudo uma questão de tradução. Prefira as que são diretas do Russo e que obedecem as normas de transliteração do Russo para o Português. É Tolstói, e não Tolstoy. Leão, Leon ou Liev, são as traduções corretas do nome do escritor. Se seu objetivo não é o de tornar-se um conhecedor, isto provavelmente não fará tanta diferença. Folheie e veja qual mais te apetece.
  • Entre os círculos mais cultos, as editoras mais indicadas (na verdade as únicas que eles consideram) são: 34, Cosac Naify, Hedra, Kalinka e Amarilys.

Estas foram as minhas considerações e ressalvas. Desejo a todos vocês uma boa leitura!

“A Educação Sentimental” – Relatório de Leitura

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“No Moulin Rouge” – Henri de Toulouse-Lautrec

Outro livro difícil de encontrar, e nem ao menos a Biblioteca Pública dispunha de um exemplar. Como o blog ainda estava no início, eu não queria sair muito da ordem da lista, portanto, me pus a pesquisar possibilidades. Encontrei o livro à venda por R$ 29,79, em uma única livraria da cidade. Verifiquei e o preço online (Não inclusa a taxa de envio) era rigorosamente o mesmo. Liguei para um sebo, que para variar não dispunha do exemplar, entretanto o dono me deu uma dica. Um endereço online. Um cadastro de sebos.

Fui ligando de um em um. Na terceira tentativa, a senhora que me atendeu disse que acessaria o cadastro dos sebos. Eu disse que foi assim que a encontrei, pelo cadastro da internet e ela me esclareceu que alguns sebos, estão ligados a uma espécie de rede de localização de títulos. Ela realizou uma busca e encontrou um sebo (grande e no centro da cidade) que possuía um exemplar cadastrado. Aconselhou-me a ligar antes e confirmar. Assim fiz.

Ao chegar lá e conversar com a garota que falou comigo e confirmou pelo telefone, descobri que ele não estava na estante. Ela fez outra busca no computador que registrou a presença do danadinho na loja. Concluiu que deveria estar no estoque e esperei no caixa, enquanto uma fila desenvolveu-se atrás de mim. Ouvi alguns murmúrios. Poucos instantes depois ela volta com o dito cujo na mão. “Nossa este livro deve estar aqui há muito tempo. Para estar escondidinho assim no estoque, ninguém nunca deve ter procurado…”

Comprei-o por cerca de metade do preço de um exemplar novo, exatamente R$ 15,00. Uma edição muito bela. Vermelha, capa dura, letras em dourado. Possuía um único defeito, uma rasurinha mínima na capa, como se ela tivesse sido dobrada para frente e para dentro. Mesmo com a vocação para contorcionista da capa, segui feliz para casa.

O livro é denso, descobri que a velocidade de leitura nem sempre corria a contento, eu acabava voltando um parágrafo inteiro porque perdia o fio à meada. Foi quando decidi ler somente à noite, e deste momento em diante a leitura correu a contento. No silêncio do sono da cidade ele se abriu em toda sua fluidez.

Devo dizer que não esperava nem esta história, nem este contexto e muito menos esta trama para uma obra posterior a “Madame Bovary”. Como não fiz nenhuma pesquisa prévia, o livro foi inteiramente uma surpresa para mim. Às vezes penso ser essa a melhor política, você ler algo sem ter idéia do que se trata. Deixar-se surpreender e cativar.

Enquanto lia, o livro me atraiu mais pelo estilo do texto do que pela história em si. Isso durou até o momento em que o terminei. Qual não foi a minha surpresa, com a melancolia que invadiu o meu coração. Lembrei de tantos momentos de minha vida. Fiquei brava! Como se o livro tivesse tomado algo de mim. Releguei-o irreconciliável ao exílio da cômoda, disposta a ser muito ferina com ele.

Passados dois dias, percebi que ele me feriu por falar de coisas que ainda eram muito fortes em mim. Que a bronca não era com o livro, era comigo mesma. E tendo feito esta descoberta não a poderia ignorar, foi neste momento em que o livro cumpriu sua tarefa. Mostrou à sua maneira o que na minha vida não passava de ilusão. Ele não me feriu, ele me curou, e reconciliados escrevemos juntos os posts do blog. Eu e o livro. Eu e Flaubert.

“Ana Karenina” – Relatório de Leitura

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Quando eu era pequena meus pais possuíam um exemplar de “Ana Karenina” que eu namorei na estante até ter idade suficiente (segundo a minha mãe) para ler, e o li. Agora, anos depois, quando fui repetir a dose para o blog, descobri que ela havia se desfeito dele. Como trabalho com arte, penso ser uma responsabilidade começar a manter uma boa biblioteca. Desta forma, justificando perante mim mesma, cheguei a conclusão de que este era um livro que eu precisava ter. Ter e não emprestar. Então tirei um tempo, antes de viajar no final do ano, para ir até a livraria cultura e adquirir ou encomendar um exemplar.  E mais uma vez dei com os burros n’água. Não sei se você que lê este texto agora, acompanha meu blog. Se acompanha já percebeu que encontrar um exemplar é sempre uma calamidade. Luto contra falta de estoque, alergias causadas pela má conservação dos livros disponíveis na biblioteca, entre outras coisas.

O prazer de ler realmente é uma luta. O Brasil é um país com um baixíssimo índice de leitura per capta. Se todos que resolvem abrir um clássico batem-se tanto quanto eu, não me espanta este índice permanecer sempre em patamar irrisório.

Viajei no dia seguinte e acabei não verificando as outras livrarias. Quando cheguei em Camboriú para passar o réveillon fui a primeira livraria que encontrei. Já estava quase acabando o outro livro e perspectiva de ficar com tempo de sobra e ler outras coisas fora da lista não me agradava em nada. Arrastei meu namorado junto e o livreiro me disse a mesma coisa que eu já havia ouvido em Curitiba, e mais. Disse que faziam uns dois anos que este livro não recebia novas edições e que ele mesmo havia feito um pedido e a editora dito não ter mais exemplares disponíveis em estoque.

Perguntei por outras livrarias e ele disse só haverem mais duas na cidade. Não sei se o fez de má fé, porque logo depois quando cheguei na segunda fui informada de que haviam cinco livrarias ao todo e três sebos na cidade. Confiei na informação deste segundo livreiro que me aconselhou a procurar em sebos. Começou a chover e mesmo com os protestos do meu namorado fui até o único sebo que poderia ir sem carro:

-Pára com isso Rafa! Você não vai encontrar este livro.

-Vou sim! Ele tá lá! Eu sinto e tenho certeza.

A chuva começou. Canivetes com gosto de sal. Um horda de turistas argentinos na direção contrária e eu correndo de sandálias atrás do meu Tolstói. E eu estava certa. Ele estava lá. Perguntei para a atendente que confirmou pelo computador. Fui até a estante indicada, a única possível, e encontrei-o. Lindo! Uma edição realmente caprichada. Capa dura e jeito de livro antigo. Fiquei tão apaixonada pelos desenhos da capa que os usei para ilustrar quase todos os posts sobre o livro. Não me preocupo, loucura por livros é altamente saudável. Assim falou Rafatustra.

O meu exemplar pertence a mesma coleção do “A Educação Sentimental”. É da editora Abril e tem um jeito de biblioteca familiar de antigamente. Contudo, tenho algumas poucas críticas a fazer. Dois erros de português e três de digitação (o que eu acho inadmissível para uma edição tão luxuosa). Fora isso, eu substituiria algumas palavras exageradamente rebuscadas que atrapalharam a fluência do livro, e só.

De qualquer forma o papel era excelente, mas o tamanho era bem inadequado para levar e ler na praia. A solução que eu encontrei foi levar minha espreguiçadeira no final da tarde, quando não havia mais sol forte ou necessidade de guarda sol. Lia naquele momento em que a luz se esfacelava, pouco antes de começar o poente, e mantive o livro sempre dentro de um saco plástico quando não o lia. Tive uma semana linda com estes momentos. O cheiro de mar, o sol e Tolstoi. Foi uma experiência agradabilíssima, só faltou Nina Simone cantando “Here comes the sun”. Lei do silêncio…tsc, tsc, tsc.

“Ana Karenina” – Nota de Conclusão

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Minhas suspeitas confirmaram-se. O livro que li anos atrás e guardei na memória não é o mesmo que reli agora. Truque da memória? Editei algumas coisinhas no meu inconsciente, outras acabaram esquecidas, provavelmente por não ter dado a devida importância na época (Ah! Adolescência!). Creio que a maturidade de fato desempenhou um papel importante nesta nova experiência de leitura.

Vi desta vez muitos personagens por um novo prisma. Outros, como Liêvin, destacaram-se mais desta vez do que da primeira. Nesta segunda leitura eu o amei, e muito. Por sua sinceridade, autenticidade, e principalmente por seu coração de apaixonado, portanto acabei dando um desconto para o seu lado mais rabugento. São dele algumas das minhas passagens favoritas no livro.

“Este segredo só tem importância para mim, e palavra alguma o poderia explicar. Este novo sentimento não me modificou, não me deslumbrou, nem me tornou feliz, como eu supunha. Sucedeu a mesma coisa com o amor paternal, que não foi acompanhado de surpresa ou de deslumbramento. Devo chamar-lhe fé? Não sei. Sei apenas que me penetrou na alma através do sofrimento e nela se implantou com toda a firmeza”.( Liêvin – Ana Karenina – Tolstoi)

Ana Karenina também já não é mais a mesma de quem eu lembrava. Antes a achava desafiadora e corajosa por viver seu amor. A editei para mim como uma espécie de mártir (fictícia) do feminismo. De onde eu tirei essa? Tolstói adiantou-se muitos anos ao tratar do fim do casamento com o divórcio, mas Ana não foi uma vítima das circunstâncias. Muito pelo contrário, já carregava em si o gérmen da tragédia que abateu-se sobre sua vida, como um pressentimento de alma revelado em sonho que infelizmente a engoliu.

Este não é um livro sobre a emancipação feminina ou da falta de espaço para a mulher na sociedade retratada ali, embora seja um de seus temas. Esta é uma história sobre as famílias tristes e sobre o veneno presente sob o viés das aparências que lhe dão sustentação. Neste particular a mensagem de Tolstoi foi direta: o veneno, seja qual forma tome (de preconceito, intolerância, falta de comunicação, ausência, adultério ou mentiras) deve ser extirpado. Não existe família feliz se não existir harmonia entre seus membros, contudo, cada família, por ter sua identidade própria também tem a sua forma particular de encontrá-la.

“A Educação Sentimental” – Guia de leitura

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Flaubert adiantou-se e escreveu uma obra que trata de todos os nossos problemas afetivos, ou para ser mais exata, o conflito entre a alma romântica (seus anseios idealistas na busca do parceiro) e o mundo moderno, com toda a sua racionalidade, instantaneidade e descompromisso com o amor romântico.

A sociedade, ali, já não comporta o herói romântico e mesmo esse, não tem problemas em abrir mão de seus ideais elevados para “realizar seus sonhos”, leia-se: conseguir êxito na vida. E quando o fazem, escorregam, erram a mão e acabam atropelados pela realidade, pautada na praticidade dos interesses rasos. Os revolucionários, os arautos do saber, os liberais e os conservadores. Todos ainda possuem o mesmo discurso de tons idealistas de outrora, enquanto isso a realidade que os cerca é destruidora, sem sobrar nada para ninguém.

Desculpe-me Proust, mas o título desta obra deveria ser “Adeus às ilusões”, já que tudo se transforma em pó e até mesmo o amor decepciona. Fica fora de compasso, um estranho que não pode germinar em solo infértil.

Neste “A Educação Sentimental” todos os ideais românticos perdem consistência, e se tornam ilusões, mas como é Flaubert, isso é feito com maestria, tecido com capricho e disposto na obra com a mesma perícia de um mestre confeiteiro derramando a cobertura por sobre a torta. Este é um livro para se ler com calma, com atenção às implicações da trama e à vida interior dos personagens, pois aí reside o seu filet mignon.

Este é um livro relativamente fácil de ler quanto à estrutura do texto, contudo, em sua trama, possui elementos que podem dificultar a sua assimilação. A narrativa tem como pano de fundo a Revolução de 1848 na França e os períodos que a antecederam e sucederam.

De certa forma, através das ações dos personagens que a compõem, a obra desmonta a visão heroica que a descreve na maioria dos livros de história. Portanto, recomendo a leitura de textos sobre a Revolução, para compreender a dinâmica entre os personagens. (Não citarei nenhum texto em específico, ou fonte bibliográfica, esta parte deixo à cargo do freguês, mas postarei material complementar mais adiante). Sem isso, você corre o risco de ficar perdido em alguns pontos, ou ainda pode perder toda a ironia de Flaubert sobre o assunto. Neste caso, convenhamos, Flaubert com reservas não é Flaubert.

“Anna Karenina” – Nota de Início

 

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Este é um clássico da literatura no sentido estrito da designação. Uma das tramas mais filmadas, reinterpretadas, adaptadas, referenciadas e comentadas da história, “Ana Karenina” de Liev Tolstoi.

O livro é sobre um romance “adúltero” na sociedade petersburguesa da época.  Ele não chega a ser novidade para mim. Já o li há muito tempo atrás, e bota muito nisso. Eu estava entrando na adolescência e fiquei um mês e meio com o livro na mão, lembro de me distrair com facilidade ao ler. Espero que a maturidade traga também uma outra experiência na leitura.

 Esqueci muitos pormenores da trama. A maior parte vai ser “surpresa” para mim. Será que a idéia que eu faço do livro hoje em dia, após tê-lo lido há tantos anos corresponde com a realidade? Veremos!