“A Educação Sentimental” – Relatório de Leitura

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“No Moulin Rouge” – Henri de Toulouse-Lautrec

Outro livro difícil de encontrar, e nem ao menos a Biblioteca Pública dispunha de um exemplar. Como o blog ainda estava no início, eu não queria sair muito da ordem da lista, portanto, me pus a pesquisar possibilidades. Encontrei o livro à venda por R$ 29,79, em uma única livraria da cidade. Verifiquei e o preço online (Não inclusa a taxa de envio) era rigorosamente o mesmo. Liguei para um sebo, que para variar não dispunha do exemplar, entretanto o dono me deu uma dica. Um endereço online. Um cadastro de sebos.

Fui ligando de um em um. Na terceira tentativa, a senhora que me atendeu disse que acessaria o cadastro dos sebos. Eu disse que foi assim que a encontrei, pelo cadastro da internet e ela me esclareceu que alguns sebos, estão ligados a uma espécie de rede de localização de títulos. Ela realizou uma busca e encontrou um sebo (grande e no centro da cidade) que possuía um exemplar cadastrado. Aconselhou-me a ligar antes e confirmar. Assim fiz.

Ao chegar lá e conversar com a garota que falou comigo e confirmou pelo telefone, descobri que ele não estava na estante. Ela fez outra busca no computador que registrou a presença do danadinho na loja. Concluiu que deveria estar no estoque e esperei no caixa, enquanto uma fila desenvolveu-se atrás de mim. Ouvi alguns murmúrios. Poucos instantes depois ela volta com o dito cujo na mão. “Nossa este livro deve estar aqui há muito tempo. Para estar escondidinho assim no estoque, ninguém nunca deve ter procurado…”

Comprei-o por cerca de metade do preço de um exemplar novo, exatamente R$ 15,00. Uma edição muito bela. Vermelha, capa dura, letras em dourado. Possuía um único defeito, uma rasurinha mínima na capa, como se ela tivesse sido dobrada para frente e para dentro. Mesmo com a vocação para contorcionista da capa, segui feliz para casa.

O livro é denso, descobri que a velocidade de leitura nem sempre corria a contento, eu acabava voltando um parágrafo inteiro porque perdia o fio à meada. Foi quando decidi ler somente à noite, e deste momento em diante a leitura correu a contento. No silêncio do sono da cidade ele se abriu em toda sua fluidez.

Devo dizer que não esperava nem esta história, nem este contexto e muito menos esta trama para uma obra posterior a “Madame Bovary”. Como não fiz nenhuma pesquisa prévia, o livro foi inteiramente uma surpresa para mim. Às vezes penso ser essa a melhor política, você ler algo sem ter idéia do que se trata. Deixar-se surpreender e cativar.

Enquanto lia, o livro me atraiu mais pelo estilo do texto do que pela história em si. Isso durou até o momento em que o terminei. Qual não foi a minha surpresa, com a melancolia que invadiu o meu coração. Lembrei de tantos momentos de minha vida. Fiquei brava! Como se o livro tivesse tomado algo de mim. Releguei-o irreconciliável ao exílio da cômoda, disposta a ser muito ferina com ele.

Passados dois dias, percebi que ele me feriu por falar de coisas que ainda eram muito fortes em mim. Que a bronca não era com o livro, era comigo mesma. E tendo feito esta descoberta não a poderia ignorar, foi neste momento em que o livro cumpriu sua tarefa. Mostrou à sua maneira o que na minha vida não passava de ilusão. Ele não me feriu, ele me curou, e reconciliados escrevemos juntos os posts do blog. Eu e o livro. Eu e Flaubert.

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