“Ana Karenina” – Relatório de Leitura

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Quando eu era pequena meus pais possuíam um exemplar de “Ana Karenina” que eu namorei na estante até ter idade suficiente (segundo a minha mãe) para ler, e o li. Agora, anos depois, quando fui repetir a dose para o blog, descobri que ela havia se desfeito dele. Como trabalho com arte, penso ser uma responsabilidade começar a manter uma boa biblioteca. Desta forma, justificando perante mim mesma, cheguei a conclusão de que este era um livro que eu precisava ter. Ter e não emprestar. Então tirei um tempo, antes de viajar no final do ano, para ir até a livraria cultura e adquirir ou encomendar um exemplar.  E mais uma vez dei com os burros n’água. Não sei se você que lê este texto agora, acompanha meu blog. Se acompanha já percebeu que encontrar um exemplar é sempre uma calamidade. Luto contra falta de estoque, alergias causadas pela má conservação dos livros disponíveis na biblioteca, entre outras coisas.

O prazer de ler realmente é uma luta. O Brasil é um país com um baixíssimo índice de leitura per capta. Se todos que resolvem abrir um clássico batem-se tanto quanto eu, não me espanta este índice permanecer sempre em patamar irrisório.

Viajei no dia seguinte e acabei não verificando as outras livrarias. Quando cheguei em Camboriú para passar o réveillon fui a primeira livraria que encontrei. Já estava quase acabando o outro livro e perspectiva de ficar com tempo de sobra e ler outras coisas fora da lista não me agradava em nada. Arrastei meu namorado junto e o livreiro me disse a mesma coisa que eu já havia ouvido em Curitiba, e mais. Disse que faziam uns dois anos que este livro não recebia novas edições e que ele mesmo havia feito um pedido e a editora dito não ter mais exemplares disponíveis em estoque.

Perguntei por outras livrarias e ele disse só haverem mais duas na cidade. Não sei se o fez de má fé, porque logo depois quando cheguei na segunda fui informada de que haviam cinco livrarias ao todo e três sebos na cidade. Confiei na informação deste segundo livreiro que me aconselhou a procurar em sebos. Começou a chover e mesmo com os protestos do meu namorado fui até o único sebo que poderia ir sem carro:

-Pára com isso Rafa! Você não vai encontrar este livro.

-Vou sim! Ele tá lá! Eu sinto e tenho certeza.

A chuva começou. Canivetes com gosto de sal. Um horda de turistas argentinos na direção contrária e eu correndo de sandálias atrás do meu Tolstói. E eu estava certa. Ele estava lá. Perguntei para a atendente que confirmou pelo computador. Fui até a estante indicada, a única possível, e encontrei-o. Lindo! Uma edição realmente caprichada. Capa dura e jeito de livro antigo. Fiquei tão apaixonada pelos desenhos da capa que os usei para ilustrar quase todos os posts sobre o livro. Não me preocupo, loucura por livros é altamente saudável. Assim falou Rafatustra.

O meu exemplar pertence a mesma coleção do “A Educação Sentimental”. É da editora Abril e tem um jeito de biblioteca familiar de antigamente. Contudo, tenho algumas poucas críticas a fazer. Dois erros de português e três de digitação (o que eu acho inadmissível para uma edição tão luxuosa). Fora isso, eu substituiria algumas palavras exageradamente rebuscadas que atrapalharam a fluência do livro, e só.

De qualquer forma o papel era excelente, mas o tamanho era bem inadequado para levar e ler na praia. A solução que eu encontrei foi levar minha espreguiçadeira no final da tarde, quando não havia mais sol forte ou necessidade de guarda sol. Lia naquele momento em que a luz se esfacelava, pouco antes de começar o poente, e mantive o livro sempre dentro de um saco plástico quando não o lia. Tive uma semana linda com estes momentos. O cheiro de mar, o sol e Tolstoi. Foi uma experiência agradabilíssima, só faltou Nina Simone cantando “Here comes the sun”. Lei do silêncio…tsc, tsc, tsc.

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